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Autocuradoria: Filtro ou Esponja?

Mind Box - Edição #011

Na edição anterior, falamos sobre as muitas caixas de entrada que preenchem nossos dias — e como a hiperconexão pode nos deixar sempre ocupados, mas raramente presentes.
(Se ainda não leu, vale conferir: “Uma casa com 12 caixas de correio?”)

A partir daquela reflexão, surgiu uma pergunta que vai além da produtividade:
Se tudo é entrada, o que realmente merece passar pelo seu filtro?

É aqui que entra o tema desta semana: autocuradoria.
Porque, se você não decide o que entra, alguém — ou algum algoritmo — vai decidir por você.

AUTOCURADORIA

Havia um meme que circulava há alguns anos com algo mais ou menos assim: “Amanhã eu acordo às 5h da manhã, corro 10 km, medito, leio 50 páginas, tomo café sem açúcar, aprendo inglês fluente e abro uma empresa…”

“Amanhã eu acordo às 5h da manhã, corro 10 km, medito, leio 50 páginas, tomo café sem açúcar, aprendo inglês fluente e abro uma empresa…”

Vivemos na era da hiperinformação e da facilidade. Temos tudo em excesso — e à mão. Mas justamente por isso, muitas vezes deixamos de cuidar do que comemos, do que ouvimos, do que assistimos, do que consumimos com a mente e com o corpo.

Antes, a informação vinha materializada: livros, discos, fitas cassete, CDs, VHS. Hoje, tudo está desmaterializado — na nuvem, no streaming, no feed.

E assim, relaxamos no filtro das entradas.
É muito fácil comer algo ultraprocessado.
É inevitável andar por uma praia no verão e grudar na cabeça uma música chiclete qualquer.
É impossível “desver” memes ou conteúdos de gosto duvidoso.

Tudo entra. Quase nada é curado.
E aqui entra uma palavra-chave: curadoria.

Curadoria é o ato de cuidar.
Vem do latim curare, que significa cuidar, zelar.

Tem duas origens principais:
🔹 No campo jurídico, aparece como curatela — o cuidar legal de alguém.
🔹 No campo da arte e da cultura, o curador é quem escolhe, organiza e dá sentido a uma exposição.

Hoje, ampliamos esse conceito para a vida.
Autocuradoria é o processo consciente de selecionar o que entra na sua mente, no seu cotidiano, na sua atenção.
É sobre o que você consome, com quem se conecta, onde foca — e, principalmente, o que decide deixar de fora.

A mente não é um vaso a ser preenchido, mas um fogo a ser aceso.

Plutarco

Depois do café da manhã de domingo

Durante minha infância, minha mãe trabalhava na Editora Abril.
(Mãe, se você estiver lendo... beijo pra você. ❤️)

Cresci cercado de gibis, mas também de revistas como Veja e Exame. Lembro de ler a Exame com 9, 10 anos. Não entendia nem um quarto do que estava escrito — mas insistia.

Outro hábito era acompanhar minha mãe na leitura dos jornais de domingo, logo depois do café. Aqueles jornais mais parrudos, cheios de cadernos: principal, mundo, economia, cultura… Eu gostava de abrir, folhear, tentar entender o que estava acontecendo no mundo.

Esses hábitos me formaram como leitor. Primeiro, como alguém que gostava de ler. Depois, como alguém que gostava de estar atualizado.

Com uns 20 anos, já trabalhando, cheguei ao cúmulo de assinar cinco publicações diferentes ao mesmo tempo. Pura ilusão de produtividade. Claro que eu não dava conta. Lia algumas matérias, outras só empilhavam — literalmente.

Curioso é que hoje a gente repete esse mesmo padrão com serviços de streaming. Só que com uma diferença: antes, havia uma espécie de pré-curadoria.

Quer dizer, se você quisesse ler sobre esportes, ia direto ao caderno de esportes. Se queria entender política, tinha um espaço claro pra isso. Mesmo na TV, os programas vinham em blocos temáticos, com um horário fixo.

Agora... o fluxo é infinito.
Blogs, canais no YouTube, newsletters, podcasts, vídeos de 15 segundos, lives de 3 horas, posts de especialistas — ou de quem só parece ser um. Informação por todos os lados. Escolha por sua conta e risco.

Por um lado, isso é incrível: liberdade de escolha, autonomia, flexibilidade.
Por outro, é um convite ao caos.

📌 Quais fontes são confiáveis?
📌 O conteúdo que parece informativo é, na verdade, patrocinado?
📌 O influencer de nutrição tem alguma formação na área — ou só um feed bonito?

A curadoria que antes vinha pronta, hoje é nossa responsabilidade.
E isso pode ser bom. Mas só se a gente souber o que e por que está escolhendo consumir.

Em tempos de excesso, a autocuradoria não é só um luxo — é uma necessidade estratégica.
Ou você escolhe o que te informa, ou será moldado por aquilo que apenas te distrai.

Curadoria exige escolha. E toda escolha exige renúncia.

A qualidade da sua vida depende da qualidade da sua atenção.

Deepak Chopra

Fazer autocuradoria é mais do que selecionar conteúdos.
É escolher o que entra na sua atenção — e o que fica de fora.
E escolher, quase sempre, é renunciar.

Selecionar com intenção é dizer “sim” ao que importa —
mas também é ter a coragem de dizer “não” a muita coisa que é só excesso.

📌 Você vai silenciar alguém querido que só manda corrente no grupo?
📌 Vai sair de um grupo de colegas que virou só meme e ruído?
📌 Vai deixar de acompanhar aquele feed que te prende, mas nunca te nutre?

Tudo isso pode gerar culpa. Pode parecer indelicado. Pode até parecer que você está “se afastando”.

Mas aqui entra a pergunta que zera o jogo:
👉 Isso está me servindo ou só me distraindo?

Não é sobre rejeitar pessoas. É sobre proteger presença.
Porque atenção é um recurso finito. Se você entrega para o que não importa, sobra menos para o que realmente vale a pena.

Filtro, não esponja

O simples dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta para os seus passos.

Provérbios 14:15

Ser filtro é estar consciente do que entra. É permitir com critério.
Ser esponja é absorver tudo — inclusive o que desgasta, desorganiza e desconecta.

E tem mais:
🔹 O filtro sabe o que acolhe.
🔹 A esponja nem percebe o que acumulou.

Com o tempo, o que você absorve vira parte de você: no vocabulário, no humor, nas reações, nas ideias.

Por isso, fazer autocuradoria é um ato de autocuidado.
É recuperar o poder de decidir o que te forma, o que te atravessa, o que te molda.

📌 Você não controla tudo o que acontece no mundo, mas pode decidir o que deixa entrar no seu mundo.
E isso muda tudo.

Este conceito já é conhecido.

Autocuradoria não é algo exatamente novo.
Já fazíamos isso quando escolhemos o jornal ou a revista que assinamos para nos atualizar.

De forma mais aprofundada, é o que faz um estudante ao preparar um TCC, dissertação ou tese: seleciona as obras, estuda, destaca trechos, mergulha na reflexão e só então produz algo. O input vem da escolha prévia do conteúdo.

Minha proposta aqui é expandir essa prática para outras áreas da vida — com consciência e intenção.

As 6 Áreas da Autocuradoria

Fazer autocuradoria não é só deixar de seguir perfis ou sair de um grupo no WhatsApp. É mais profundo que isso. É sobre olhar com intenção para o que entra — e o que você está permitindo que fique.

Mas pra não deixar esse conceito solto demais, gosto de dividir a autocuradoria em áreas. Isso ajuda a trazer clareza e ação. Afinal, é difícil mudar tudo de uma vez. Mas, quando a gente olha pra cada campo da vida com mais atenção, começa a ajustar o que nutre e o que só ocupa espaço.

Abaixo, compartilho 6 áreas onde vale aplicar esse filtro com mais consciência. Nenhuma fórmula pronta — só sugestões pra você adaptar ao seu jeito de viver.

🧠 1. Autocuradoria de Conhecimento

O que você consome e compartilha.

  • Seleção criteriosa de livros, cursos, conteúdos e especialistas.

  • Foco em temas que importam para seus objetivos.

  • Atualização com intenção, evitando o excesso sem filtro.

    Exemplos práticos:
    • Definir um tema central por trimestre.
    • Criar uma rotina de estudo semanal.
    • Compartilhar aprendizados sem tentar parecer especialista em tudo.

🌿 2. Autocuradoria de Estilo de Vida

Como você vive sua rotina e valores.

  • Alinhar discurso e prática.

  • Equilíbrio entre trabalho, descanso e lazer.

  • Respeitar seu ritmo e bem-estar.
     

    Exemplos práticos:
    • Estabelecer horários fixos de trabalho.
    • Priorizar sono, alimentação e movimento.
    • Reduzir compromissos para evitar sobrecarga.

🎨 3. Autocuradoria de Imagem e Marca Pessoal

Como você se apresenta ao mundo.

  • Coerência entre visual, discurso e posicionamento.

  • Autenticidade na expressão.
     

    Exemplos práticos:
    • Usar elementos visuais que representem sua identidade.
    • Escrever uma bio clara nas redes.
    • Alinhar sua comunicação ao público que deseja alcançar.

💬 4. Autocuradoria de Comunicação

Como você transmite suas mensagens.

  • Clareza de intenção.

  • Consistência entre falar, escrever e postar.

    Exemplos práticos:
    • Reavaliar sua forma de se comunicar.
    • Ajustar linguagem para diferentes contextos.
    • Ouvir mais antes de responder — praticar escuta ativa.

⏳ 5. Autocuradoria de Tempo e Energia

O que você prioriza e o que aprende a recusar.

  • Gestão da agenda com intenção.

  • Definição de prioridades reais, não só urgentes.

    Exemplos práticos:
    • Reservar blocos para foco profundo.
    • Reduzir tempo em redes e e-mails fora do expediente.
    • Revisar semanalmente o que te drena — e ajustar.

🧩 6. Autocuradori de Relacionamentos e Trocas

Com quem você se conecta.

  • Escolher conexões com base em valores e afinidade.

  • Priorizar profundidade em vez de quantidade.

    Exemplos práticos:
    • Estar em grupos que incentivam crescimento.
    • Se aproximar de quem estimula boas conversas.
    • Se afastar de relações que só drenam.

🛠️ 5 Formas Práticas de Fazer Autocuradoria

1️⃣ Digital – Silencie ou deixe de seguir o que te distrai mais do que inspira.
2️⃣ Informacional – Cancele newsletters que não lê. Priorize fontes confiáveis.
3️⃣ Ambiental – Ajuste o som, a luz e até os objetos ao seu redor.
4️⃣ Relacionamentos – Avalie os vínculos que nutrem versus os que drenam.
5️⃣ Mental e emocional – Nem todo pensamento merece palco. Observe e selecione.

🚀 Desafio da Semana: Sua Curadoria Pessoal em 4 Passos

A ideia não é cortar tudo de uma vez, mas começar a perceber o que te ocupa e o que te nutre.
Autocuradoria começa com consciência. E se consolida com intenção.

🔹 Passo 1 – Mapeie suas fontes
Liste os canais que você consome: redes sociais, newsletters, grupos, podcasts, notificações etc.

🔹 Passo 2 – Classifique com honestidade
👉 Isso me informa? Me inspira? Ou só me distrai?
✔️ = valioso | = consumo automático

🔹 Passo 3 – Faça uma microcuradoria
Escolha três canais para silenciar ou reduzir o uso por uma semana.

🔹 Passo 4 – Crie um espaço de nutrição
No lugar do ruído, insira algo que te nutra: um livro, uma aula, uma conversa, um tempo de silêncio.

📌 Curar o que você consome é começar a curar o que te forma.

💡 Mind Drop – Meu Download Mental Semanal

📖 O que estou lendo: Minimalismo Digital (Cal Newport)
📺 O que estou assistindo: Casa de Davi (Prime Video)
🎵 O que estou ouvindo: Mind Box (Playlist oficial da Newsletter)

Frase da semana: “A liberdade está em ser dono da própria atenção.” _Naval Ravikant

Perdeu a última edição? Toque aqui para ler:

Edição #010: 📩 Uma casa com 12 caixas de correio?

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Grande abraço e até a próxima,

Dalton Oliveira.

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